domingo, 17 de maio de 2015

Farinha é o substituto para o trigo

A mandioca pode se transformar no principal cultivo do século 21 se for cultivada com um modelo de agricultura sustentável que satisfaça o aumento da demanda. Quem defende a ideia é a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
Por meio de um comunicado, a entidade presidida pelo brasileiro José Graziano destacou que a produção mundial de mandioca aumentou 60% desde 2000.
Uma das razões para o crescimento é o elevado preço dos cereais, o que transforma o tubérculo em uma alternativa “atrativa” ao trigo e ao milho. A partir da mandioca, é possível produzir uma farinha de alta qualidade, que pode ser usada como substituta à de trigo.
Espécie natural da América Latina, onde era cultivada por grupos indígenas, a mandioca espalhou-se pelo mundo na época da colonização americana pelos europeus. Na África, para onde a planta foi levada com o tráfico de escravos, ela tornou-se extremamente popular. Tanto é que em Angola e Moçambique o tubérculo é usado para cozinhar uma espécie de angu, chamado de funge e chima, respectivamente, que equivale ao arroz e feijão do brasileiro.

MODELO

A FAO apresentou um modelo de agricultura sustentável batizado de “Economizar para Crescer”, que pode aumentar os rendimentos gerados pelo cultivo da mandioca em 400%. Segundo a publicação, a primeira de uma série de guias de aplicação prática de modelos agrícolas sustentáveis, este objetivo pode ser alcançado através da melhoria da qualidade e saúde da terra, ao invés do uso intensivo de produtos químicos.
No lugar das monoculturas associadas normalmente aos sistemas agrícolas intensivos, o programa estimula o cultivo misto, rotação de produção e o não uso de pesticidas químicos.
Segundo a organização, estas práticas deram resultados “espetaculares” em testes realizados no Vietnã, onde os camponeses aumentaram os rendimentos da mandioca em 400%. Na República Democrática do Congo, país com enorme potencial agrícola e que ocupa o último lugar do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, os campos em que a tecnologia foi utilizada aumentaram a produtividade em 250%.

Produto deve enriquecer pão

Outra reivindicação do setor produtivo é a adição de amido de mandioca na farinha de trigo. “Precisamos também aprovar o projeto de lei 5332/2009, da deputada Elcione Barbalho, que é o projeto do Pão Brasileiro. Nós precisamos de forças junto ao governo federal, da base do governo, para que não haja veto novamente ao projeto, como ocorreu em 2008”, defendeu o presidente da Associação dos Produtores de Mandioca do Paraná, Francisco Abrunhoza.
Segundo ele, na época o lobby feito pela indústria do trigo prejudicou o projeto. “Infelizmente no Brasil quem tem dinheiro consegue muita coisa e quem luta no campo, no dia a dia, não consegue. Temos que valorizar o agricultor brasileiro, e não o agricultor argentino”, lamentou.
O projeto da deputada Elcione Barbalho, que cria o pão brasileiro, mais nutritivo e acessível a toda a população, tramita na Câmara dos Deputados desde 2009. Fruto de uma série de estudos e pesquisas que demonstram a sua viabilidade técnica, a proposição foi analisada em Comissão Especial no ano passado e deve voltar à pauta de votações em breve.
“O pão está presente na alimentação diária de praticamente todos os brasileiros, oferecer uma alternativa mais nutritiva, com menos glúten, por exemplo, é fundamental para a saúde das pessoas”, conta a autora do projeto.
De acordo com o projeto, o pãozinho de sal seria produzido com uma composição diferente feita a partir da mistura com a fécula da mandioca. Para incentivar a produção e a comercialização com um custo mais baixo para a população, a proposta também estabelece um regime de alíquota zero para a fécula de mandioca.
“Hoje a farinha de trigo, de mandioca e até a mandioca já estão desoneradas de tributos com PIS e Cofins, não existe nenhum motivo para manter a tributação sob a fécula”, explica a parlamentar paraense.
O debate em torno de um pão mais brasileiro enfrenta a resistência da indústria da panificação. No início, o setor era favorável ao projeto, mas decidiu recuar com o argumento de que a fabricação do produto poderia prejudicar a comercialização do “carro chefe” das padarias brasileiras.
“Nós não estamos querendo acabar com o pão francês. O que queremos é oferecer uma alternativa capaz de gerar mais emprego e renda e ao mesmo tempo assegurar um alimento mais saudável e acessível para a população brasileira”, esclarece Elcione Barbalho, ao lembrar também que o pequeno produtor rural que sobrevive da agricultura familiar no Norte e no Nordeste do País terá um motivo a mais para cultivar a

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